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Pesquisas sobre ecosistemas de dados governamentais abertos

As organizações públicas estão enfrentando novas demandas por parte da sociedade, que envolvem uma maior transparência e participação na gestão dos recursos públicos, além de um maior controle sobre a qualidade dos serviços oferecidos e uma maior responsabilidade dos gestores na utilização desses recurso

As organizações públicas estão enfrentando novas demandas por parte da sociedade, que envolvem uma maior transparência e participação na gestão dos recursos públicos, além de um maior controle sobre a qualidade dos serviços oferecidos e uma maior responsabilidade dos gestores na utilização desses recursos. Essas novas exigências deram origem a uma plataforma denominada governo aberto, que busca disponibilizar informações (em qualquer formato) de responsabilidade governamental.

Dentro das possibilidades criadas pelas iniciativas de governo aberto, temos a utilização de dados abertos (DA), que são informações disponibilizadas na Internet de forma que possam ser reutilizadas por terceiros. Em diversos países, desde o início do século, esses temas assumiram um papel importante nas políticas públicas. No Brasil, o governo federal tomou diversas medidas em direção a esses temas, culminando, em novembro de 2011, na lei nº. 12.527 (LAI – Lei de Acesso à Informação), que entrou em vigor em 16 de maio de 2012, regulamentando o direito constitucional de acesso dos cidadãos às informações públicas, aplicável aos três poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Diante disso, é evidente a importância de os governos (responsáveis por disponibilizar grande parte das informações em formato aberto) manterem uma ampla relação com a sociedade e conhecimento de suas necessidades e capacidades para acessar e utilizar as informações disponibilizadas. Esse fato justifica a relevância da realização de trabalhos relacionados a esse tema.

Em todo o mundo, diversos pesquisadores, especialmente acadêmicos, e organizações da sociedade civil começaram a desenvolver estudos sobre a disponibilização de informações pelos governos para a sociedade e até mesmo para outros governos.

No contexto brasileiro, a realidade não foi diferente. Nesse sentido, os professores Cláudio Sonáglio Albano e Gisele da Silva Craveiro, embora já atuassem anteriormente com o tema de dados governamentais, começaram a trabalhar juntos a partir do ano de 2014.

No segundo semestre desse ano (2014), eles realizaram uma série de entrevistas com atores da sociedade e órgãos governamentais envolvidos com orçamento público e a disponibilização desses dados em formato aberto para a sociedade. As entrevistas incluíram atores de diversos países, como Argentina, Brasil, Chile, México e Uruguai. Os resultados desse trabalho podem ser consultados em: 

Os trabalhos anteriormente mencionados têm uma forte vinculação com questões orçamentárias e exploram as possibilidades de coprodução e inovação por meio do uso dos dados disponibilizados.

Continuando a investigação sobre esse tema, porém com foco nas Universidades Públicas Federais Brasileiras, foi desenvolvida uma dissertação de mestrado no programa de pós-graduação em Administração de Empresas da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), no campus de Santana do Livramento. Os resultados dessa dissertação podem ser acessados em:

Em busca de um maior entendimento sobre o ecossistema brasileiro de dados abertos, os autores expandem suas pesquisas para outros contextos. Nesse sentido, eles desenvolveram um trabalho focado na área da saúde. Os resultados desse trabalho podem ser acessados em:

Gisele da Silva Craveiro é Doutora em Engenharia de Sistemas pela USP, Mestre pela Unicamp em Ciências da Computação. Orientadora e Professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, credenciada no Programa de Pós-graduação em Mudança Social e Participação Política, Líder do grupo de pesquisa Colaboratório de Desenvolvimento e Participação (CoLab-USP).

Claudio Sonaglio Albano é Graduado em Administração Empresas/URCAMP, 1986. Especialista em Ciências da Computação, PUC/RS – Porto Alegre, 1992. Mestre em Administração de Empresas, área Sistemas de Informação UFRGS, 2001. Doutor em Administração pela FEA\USP em 2014, com estágio sanduíche na Universidade Estadual de Nova York (EUA), no Centro Tecnologia para Governo (CTG, Albany). Atualmente é Professor na Universidade Federal do Pampa no curso de Engenharia de Produção em Bagé/RS.

Qual é o Futuro dos Dados na América Latina ? 

No cenário em que dados e informações se tornam a matéria-prima fundamental para a tomada de decisão, abrangendo desde o âmbito pessoal até o institucional e envolvendo diversos processos, desde a coleta, organização até a extração e incorporação do conhecimento, surge a indagação: para onde estamos caminhando?

Com o intuito de explorar essa questão e estimular reflexões, a Iniciativa Latinoamericana para os Dados Abertos (ILDA), uma organização da sociedade civil na América Latina que visa construir conhecimento e ferramentas para promover o desenvolvimento inclusivo com base em dados, realizou o ensaio audiovisual “Futuro de los Datos”. Vale ressaltar que a ILDA também atua como nó da rede Open Data for Development (OD4D).

Nas contribuições de Gisele Craveiro e outros membros da comunidade latino-americana de dados abertos, eles aprofundam a exploração da interseção entre a agenda de dados e temáticas como inteligência artificial, governança, direitos digitais, política e diversidade. Ao compartilharem seus depoimentos, eles nos levam a refletir sobre as conexões significativas entre esses tópicos, destacando a importância de uma abordagem holística e inclusiva no universo dos dados abertos.

No primeiro episódio, o foco recai sobre as múltiplas vantagens e ameaças decorrentes do uso futuro da Inteligência Artificial: as lacunas de desigualdade, as implicações éticas envolvidas, o desenvolvimento tecnológico e as ferramentas que podem melhorar diversas áreas da sociedade.

*Gisele Craveiro é Coordenadora do grupo de pesquisa Colaboratório de Desenvolvimento e Participação da USP. Docente do Programa de Pós em Mudança Social e Participação Política da EACH-USP. Mestre e Doutora em Computação.

Projeto desenvolvido pelo COLAB é vencedor do Prêmio Fundação Banco do Brasil

O projeto Monitorando a Cidade, desenvolvido pelo COLAB, conquistou o primeiro lugar na edição de 2021 do Prêmio Fundação Banco do Brasil, na categoria Inovação Digital. O projeto da EACH foi selecionado entre mais de 450 iniciativas inscritas para receber um troféu e o prêmio de 100 mil Reais para ser investido em seu aprimoramento.

O Monitorando é uma iniciativa de coleta de dados cidadã que foi e está sendo  utilizada por diversos movimentos sociais, organizações da sociedade civil e órgãos de controle  para engajar beneficiários de políticas públicas (por exemplo: alunos de escolas públicas) na fiscalização da entrega desses serviços (por exemplo: oferta da merenda escolar). Também já foi utilizado em contextos de coleta de dados sobre meio ambiente em projetos de popularização da ciência. É uma ferramenta flexível, aberta e sob licença livre.

Seu uso em diferentes contextos tem sido estudado e, entre outras produções acadêmicas, destacamos  a dissertação de mestrado de Marisa Villi, selecionada pelo Programa de Pós-graduação em Mudança Social e Participação Política como uma das melhores dissertações produzidas no período de 2017-2020.

Para entender como a tecnologia é usada na prática:

Exemplo de como estudantes atuaram no monitoramento da merenda

Exemplos de seu uso na iniciativa da Controladoria Geral do DF que envolveu 4000 alunos e 209 docentes , em 104 escolas. Monitoramento de diversos aspectos da infraestrutura escolar (merenda, biblioteca, salas de aula, banheiros, etc):

https://globoplay.globo.com/v/6393234/programa/

http://tvbrasil.ebc.com.br/reporter-df/2018/03/projeto-da-corregedoria-do-df-transforma-ambiente-escolar

Exemplo do emprego da tecnologia no projeto Conexão Água – Biomonitorando realizado pelo Ministério Público Federal (SP) e Embrapa que leva uma metodologia de avaliação da água através da observação de biomarcadores.

Utilização no projeto do edital Aprender na Comunidade sobre mobilidade ativa em escola pública no entorno da USP Leste.

Texto original: site da EACH USP

América Latina e os desafios da Justiça Aberta – CONIP 2020

Em dezembro de 2020, 0 CONIP Judiciário e Controle (https://www.conipjud.com.br/) organizou o “XV Congresso de Inovação no Poder Judiciário e Controle”. O COLAB-USP participou de uma das mesas intitulada “América Latina: Justiça em 2030“.

O vídeo do encontro está disponível aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=00jFEbcLMa0&t=4s

https://www.youtube.com/watch?v=00jFEbcLMa0&t=4s

Participaram da Mesa:

Moderadora: Vanessa Menegueti, cofundadora, Instituto de Governo Aberto e COLAB-USP

Panelistas: Ester Gammardella Rizzi, Professora de Gestão de Políticas Públicas e Especialista em Justiça Aberta, COLAB-USP

Rosario Pavese, Coordinadora de Apoyo a Paises, Open Government Partnership (OGP)

Sandra Elena, Coordinadora programa Justicia Abierta, Ministerio de Justicia y Derechos Humanos de la Nación Argentina

Virginia Pardo, Directora de sociedad de la información, Agencia de Gobierno Electrónico y Sociedad de la Informacióny del Conocimiento – Agesic Uruguay

Aberta fase de priorização de temas para o 4º Plano de Ação Brasileiro

Está aberta a fase de votação dos temas propostos pela sociedade civil para construção do 4º Plano de Ação do Brasil na Parceria para Governo Aberto.

Conforme definido na metodologia de trabalho aprovada pelo Comitê Interministerial Governo Aberto (CIGA) e pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para Assessoramento em Governo Aberto para elaboração do 4º Plano de Ação Nacional, foi realizada, entre os dias 4 e 22 de abril, a coleta de sugestões de temas que a sociedade considera importantes serem tratados por meio de políticas de Governo Aberto. As sugestões, que foram compiladas em grandes linhas temáticas para avaliação do GT da Sociedade Civil.

Com a aprovação do Grupo, inicia-se, a partir de agora, uma nova etapa do processo: a votação nos temas propostos. A consulta pública ficará disponível até o dia 6 de maio e pode ser realizada por meio do formulário online disponível aqui (acessível somente por Mozilla Firefox e Google Chrome).

Vale lembrar que a Parceria para Governo Aberto – Open Government Partnership (OGP) é uma iniciativa internacional integrada por mais de 70 países, da qual o Brasil é membro-fundador. A OGP tem como objetivo incentivar globalmente práticas relacionadas à transparência dos governos, ao acesso à informação pública, à inovação e à participação social, e suas ações são operacionalizadas por meio de um Plano de Ação. Nesse documento, cada país participante define seus compromissos e delimita as estratégias e atividades para concretizar ações nas quais precisa se desenvolver. Os planos de ação possuem duração de até dois anos. Neste momento, o Brasil está em fase de execução do 3º Plano de Ação e início da elaboração do 4º Plano.

 

Vagas para assistentes de pesquisa para alunxs de Gestão de Políticas Públicas/USP

Atualização: prorrogado até as 13hs de quarta (21/03)

A Transparência Brasil e o Colab contratam assistentes de pesquisa do projeto Achados e Pedidos . Candidata(o)s devem ser estudantes de gestão de políticas públicas da USP.

transparencia_brasil 

Sobre a Transparência Brasil

A Transparência Brasil foca sua atuação na busca pela integridade do poder público, principalmente por meio do aumento da informação disponível. Seu trabalho é dividido em duas áreas: monitoramento das instituições e advocacy.

O primeiro diz respeito a processamento e análise de dados públicos brutos e à sua tradução em informação útil para o cidadão. Ele é realizado por meio das seguintes atividades:

 ·   Criação de instrumentos na Internet para propiciar o monitoramento do fenômeno da corrupção;
·    Produção de relatórios, estudos e levantamentos empíricos sobre a incidência do problema da corrupção em diferentes instituições, esferas e níveis de governos.

O segundo diz respeito ao fomento do debate público sobre temas relevantes envolvendo corrupção e integridade das instituições. Essa parte do trabalho é realizada por meio do engajamento nas seguintes atividades:
·    Participação dos conselhos de Transparência da Controladoria Geral da União, do Senado Federal e do Governo do estado de São Paulo;
·    Colaboração na mídia, por meio de entrevistas, levantamentos exclusivos ou artigos.

Sobre o projeto Achados e Pedidos

O projeto consiste num repositório colaborativo de pedidos de informação cujo intuito é monitorar a aplicação da Lei de Acesso à Informação (LAI) pelos órgãos públicos brasileiros, além de disseminar o seu uso entre jornalistas, pesquisadores e cidadãos não-especialistas. No relatório “Quase metade dos órgãos públicos brasileiros descumprem a Lei de Acesso” (https://goo.gl/8XxHj6), analisamos as diversas falhas do poder público na aplicação da lei, como a divulgação de dados pessoais e o descumprimento de prazos de resposta. O Achados e Pedidos é feito em parceria com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e financiado pela Fundação Ford. Acesse em http://achadosepedidos.org.br.

Sobre a Lei de Acesso à Informação (LAI)

Promulgada em 2013, a LAI (lei 12.527/2011) regulamenta o direito à informação garantido pela Constituição Federal. Por meio dela, o cidadão pode requerer uma série de informações ao poder público, que deverá obrigatoriamente respondê-lo em até 30 dias.

Sobre a parceria Transparência Brasil e Colab

A pesquisa a ser realizada consiste na análise de dados de mais de 30 órgãos públicos brasileiros obtidos no âmbito do projeto Achados e Pedidos. Os dados serão utilizados pela Transparência Brasil e pelo Colab para a produção de um estudo inédito que ofereça diagnósticos sobre a aplicação da LAI, dando suporte ao debate sobre o atendimento e temática das solicitações de acesso à informação.

Perfil

É necessário que o/a candidato/a esteja cursando a partir do segundo ano o curso em Gestão em Políticas Públicas. É necessário que seja organizado/a, com boa capacidade de leitura e interpretação e que consiga manter a concentração para realizar tarefas repetitivas. A entrega de trabalho será diária, o que exige do/a bolsista disciplina e comprometimento. Também é desejável que possua interesse nos temas de transparência institucional e acesso à informação, áreas de atuação da Transparência Brasil.

Descrição das atividades

Os/as bolsistas serão responsáveis por classificar as respostas que os órgãos públicos dão aos pedidos de acesso. Haverá um treinamento para realização das atividades, possivelmente na Transparência Brasil, localizada no bairro de Pinheiros. Haverá acompanhamento presencial e/ou à distância de um analista da Transparência Brasil, responsável por coordenar as atividades e sanar dúvidas.

Valor da bolsa: R$ 700,00.
Duração: 3 meses.
Vagas: 3.
Início: 1º de abril de 2018.

Disponibilidade: 4h diárias para trabalho em casa e/ou no laboratório de informática em horários previamente acordados. É importante informar qual é o período de tempo que possui disponível.

É necessário possuir máquina própria a partir da qual possa realizar as atividades.

Está em negociação a possibilidade da atividade ser validada como estágio curricular.

Interessados/as devem enviar e-mail com currículo resumido de até duas páginas (informar semestre letivo) e carta de motivação (até 300 palavras) até 13h do dia 21 de março de 2018 para hsalustiano@transparencia.org.br, com cópia para machado@usp.br. Candidaturas sem carta de motivação serão desconsideradas.

Os/as candidatos/as serão entrevistados na Transparência Brasil entre quinta e sexta-feira (22-23 de março). O resultado será divulgado na sexta-feira (23 de março). Nosso endereço é Rua Dr. Virgílio Carvalho Pinto, 445 – Sala 33 – São Paulo, SP – 05415-030.

Parceria para o Governo Aberto (OGP) é apresentada em pequena cidade alemã

A Alemanha aderiu à Parceria para o Governo Aberto (Open Government Partnership – OGP) em outubro de 2016. Com isso juntou-se a um grupo de mais de 70 países que apoiam a co-criação de políticas com a sociedade civil que venham promover a transparência, participação e inovação  tecnológica na gestão pública. Desde então, o país vem desenvolvendo seu 1° Plano de Ação e promovendo ações para promover o governo aberto no âmbito local.

Em 2017, o país organizou uma competição aberta a governos estaduais, regionais e municípios de diferentes portes para promover programas de governo aberto a nível local. Foram escolhidas dez cidades e regiões para serem apoiadas no  desenvolvimento de seus planos de ação com a sociedade civil. Com isso, o tema governo aberto está ficando cada vez mais conhecido no país, embora muito tenha ainda que ser feito para levar ao conhecimento dos cidadãos comuns.

Aproveitando sua estadia na Alemanha, Jorge Machado fez na segunda-feira (05) uma apresentação sobre a OGP na sede dos Amigos da Natureza (Naturfreunde) em Bad Emstal, estado de Hessen. O evento que foi moderado por Jutta Schmidt Machado e contou com a participação de cidadãos, membros de organizações da sociedade civil e políticos locais.

Jorge Machado explicando a OGP

Jorge Machado explicando os detalhes da OGP

Depois de uma explicação sobre o significado da parceria para o governo aberto e sua implementação, desenvolveu-se a discussão quais aspectos da OGP seriam interessantes para a pequena comunidade de Bad Emstal com os seus 6.500 habitantes.

Jutta Machado na moderação da discussão

Jutta Schmidt Machado na moderação da discussão sobre as necessidades locais

Na área da transparência, os cidadãos e cidadãs se interessaram principalmente em receber mais informações sobre os pedidos e protocolos do parlamento local, saber mais sobre o estado atual do balneário – que se encontra fechado, sem recursos para reforma – e dados das creches locais.

Em relação à participação cidadã foi sublinhado a importância de reconhecer as necessidades da comunidade, tratar assuntos como espaços urbanos vazios, abrir os programas dos candidatos à prefeitura e discutir a participação social no orçamento municipal. Foram destacadas a necessidades de fomentar a participação ativa da população nos temas públicos, a cooperação com o parlamento comunitário e a defesa dos interesses comunitários frente a interesses individuais no desenvolvimento urbano.

Na área da inovação e tecnologia, sublinhou-se a importância de melhorar o website da administração para dispor também mais informações úteis ao cidadão, usar mídias cívicas como Open Space e procurar financiamento de pesquisa para projetos-piloto.

As temas discutidos mostram que muitos assuntos nessa comunidade alemã têm a mesma relevância que em outras comunidades pequenas em outros países. Outro encontro deverá ser marcado em breve para dar continuidade as discussões.

Disponibilizada gratuitamente edição brasileira de quadrinhos de Nina Paley que satirizam propriedade intelectual

Além de artista talentosa, Nina Paley é voz ativa na luta por uma cultura livre. Através dos seus personagens Mimi e Eunice, ela faz um ácida e inteligente crítica à “pumpriedade intelectual” (em inglês, o título é “intelectual pooperty”). Nina Paley costuma permitir a livre circulação de suas obras na Internet. Como não podia deixar de ser, a edição portuguesa do livro está disponível online e gratuitamente pela Editora da Universidade Federal da Bahia.


Edição brasileira, publicada pela EdUFBA

O livro inclui uma breve entrevista com a artista. Ao ser perguntada por que artistas devem tornar livre seu trabalho, Nina responde que isso torna “mais fácil o seu compartilhamento” e que o apoio do público chegue diretamente ao artista. Para Nina, “ao remover as barreiras de copyright, o artista torna possível o recebimento – tanto diretamente quanto por meio de distribuidores – de dinheiro e de outros tipos de apoio, aumentando assim suas chances de sucesso.

Mimi e Eunice, em edição portuguesa. Autoria: Nina Paley.

 

Através dos quadrinhos, NIna dá suas impressões sobre a lei de copyright e inclusive demonstra seu desapontamento com as licenças Creative Commons.

O obra tem a tradução do jornalista e fotógrafo André Solnik, adaptação das imagens por Paula Vio, e conta com a introdução do professor Jorge Machado, do COLAB/USP. De acordo com a introdução, como a “propriedade intelectual” é monopólica, “na ausência de competição, seus detentores tendem a colocar os preços nas alturas. E isso ocorre no campo da cultura, nas patentes de medicamentos, obras científicas, tecnologias, etc.”. Assim, “ficam de fora todos aqueles que não podem pagar, tornando mais difícil o acesso à informação e ao conhecimento – especialmente àqueles que vivem em países subdesenvolvidos –, aumentando ainda mais o fosso global que divide ricos e pobres”.

Baixar “Mimi e Eunice em Pumpriedade Intelectual”

Pesquisadores do Colab publicam artigo onde avaliam o modelo de política públicas do Programa TransCidadania

O texto é um dos resultados da pesquisa de Bia Michele Miranda, orientanda do professor Jorge Machado. Publicado no livro “Mudanças Sociais e Participação Política – Estudos e Ações Interdisciplinares” (editora Annablume), o artigo avalia o programa como um modelo de intersetorialidade, com a participação da própria comunidade afetada pela política na sua construção.

 


Bia Michele Borges
Criado pela Prefeitura de São Paulo em 29 de janeiro de 2015 e administrado pela Coordenação de Políticas LGBT (CPLGBT) da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, o TransCidadania funciona como um programa de reinserção social e promoção da cidadania para pessoas travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade social.
transcidadania
No texto é descrita a implementação do programa e as inovações que ele traz. Os dados apresentados fazem parte de uma pesquisa qualitativa e exploratória mais ampla de dissertação mestrado, realizada entre março de 2015 e dezembro de 2016, na sede do programa TransCidadania, que inclui o acompanhamento de atividades realizadas pelo programa com os participantes, análise de documentos oficiais da prefeitura e do programa e entrevistas com gestores, equipe técnica e participantes do TransCidadania.
O artigo está disponível aqui.

 

Visita ao Centro Watson de Internet das Coisas da IBM

Localizado em Munique, na Alemanha, o Watson Center of Internet of Things (IoT) é um dos centros de pesquisas mais importantes da IBM no mundo. Havia uma certa expectativa na visita por duas razões. A primeira era sobre a interesse da IBM no tema de governo aberto, que passa a ocupar o lugar do “démodé” governo eletrônico. A segunda era de conhecer as tecnologias usadas pela IBM para conectar e processar informações sobre equipamentos e objetos (máquinas, eletrodomésticos, veículos à rede, etc.) dentro dos conceitos de smart cities e sḿart homes.

A visita foi feita acompanhada pelos pesquisadores do TOGI (The Open Government Institute, Zeppelin Universität), parceiro do COLAB, os professores Jörn von Lucke e Markus Helfert. No Watson Center of IoT fomos recebido por Lothar Marckert, vice-presidente da IBM para o setor público, e Christoph Baron, diretor de negócios estratégicos para o setor público.

O professor Jörn von Lucke é a grande figura da academia alemã que trata do tema governo aberto, participando também como representante de entidade de classe de especialistas em informática aplicada à administração do grupo de trabalho que apoia à Open Goverment Partnership na Alemanha.

A visita acabou sendo mais longa que o esperado: durou 5 horas. Apresentamos as principais oportunidades e desafios relacionados a governo aberto, serviços eletrônicos e sua relação com cidades inteligentes. Falamos das soluções livres e abertas para cidades envolvendo dados abertos e participação cidadã, relacionando o tema das cidades inteligentes com os princípios de dados abertos e de governo aberto.

Destaquei como os princípios de governo aberto estão se difundindo a nível internacional e subnacional e que existe a necessidade da criação de modelos de negócio envolvendo cidades inteligentes que contemplem políticas de transparência, participação social e proteção de dados pessoais. Enfatizei que seria bem vindo o desenvolvimento de soluções tecnológicas livres e éticas para cidades inteligentes, muito além do foco no monitoramento e vigilância ou da coleta de informações do cidadão para o mercado de dados.

Horta com manejo automatizado a partir do uso de sensores e hardware livre. Foto: Jorge Machado

 

Com relação à segunda expectativa, foi uma grande surpresa ver que todos os protótipos de objetos inteligentes eram feitos com Raspberry Pi e Arduino. São hardwares de baixo custo, cujas especificações são abertas, permitindo novas implementações – além de grande parte do código ser disponível de forma viral com licenças livres. Para se ter uma ideia, Arduino pode ser adquirido por apenas 3 dólares pela Internet – vindo da China – e os sensores mais utilizados não custam mais que 4 reais. Os protótipos do centro da IBM IoT podem ser reproduzidos por qualquer pessoa que tenha vontade e conhecimento para usar os códigos que estão disponíveis em repositórios como o GitHub, na Internet. Ainda que trabalhem também com soluções proprietárias, o modelo de negócio principal da IBM é exatamente oferecer soluções sob demanda as seus clientes corporativos, em especial baseadas no uso do conhecimento das comunidades Linux.

Braço mecânico controlado por Raspberry Pi. Foto: Jorge Machado.

 

Nesse ponto existe uma grande polêmica. A IBM investe na contratação de desenvolvedores talentosos com liderança nas comunidades de Software Livre – por suas significativas contribuições – para oferecer suas soluções. Ao contratar os “nós” principais dessas comunidades de desenvolvimento, ela acaba arrastando toda rede de programadores daquela comunidade na direção de seu interesse. Essa mão pesada da IBM é criticada há muito tempo, mas por outro lado ela foi importante para a expansão do GNU/Linux no ambiente corporativo e à geração de renda para milhares de desenvolvedores de código aberto.

Ao ver seus protótipos de IoT em exposição desenvolvidos com tecnologias livres e abertas, fiz questão de ressaltar que essas tecnologias sendo acessíveis e facilmente replicáveis, poderiam ser usadas para desenvolver também soluções livres para cidades inteligentes e casas inteligentes – nesse último caso, permitindo que cidadão não tenha que comprar equipamentos caros que coletam dados dos usuários e envia para corporações, podendo seu usando para fins de profiling ou mesmo vigilância estatal – como já fazem SmartsTvs e boa parte dos novos eletrodomésticos “inteligentes”. Os anfitriões da IBM demonstraram certa surpresa pelos comentários – aparentemente as pessoas que visitam o centro não tem muita ideia sobre isso -, mas também bastante interesse. Por fim, destaquei a relação das tecnologias livres e abertas com ciência cidadã e ciência aberta, sugerindo uma ação da empresa nesse sentido. Após meus comentários, um dos anfitriões enfatizou que a IBM  é “agnóstica” (ou seja, tem uma postura neutra com relação ao software livre, desassociando-se dos chamados “evangelistas” do software livre – como Richard Stallman, John “Maddog”, entre outros). Fiquei pensando sobre quanto a IBM fatura a partir do trabalho voluntario de milhões de desenvolvedores e que, na verdade, a empresa não é “agnóstica”, mas “fiel” ao dinheiro. Em todo caso isso não faz a IBM melhor ou pior do que outras empresas, mas simplesmente é a lógica como a sociedade capitalista funciona…

Professores Jörn von Lucke (Zeppelin Universität), à direita, e Markus Helfert (Zeppelin U. e Dublin City University).

No balanço geral, a visita foi bastante positiva. Especialmente para nossos parceiros do TOGI. Os executivos da IBM obtiveram uma visão melhor da possibilidade de investimento e desenvolvimento de produtos na Alemanha para os governos de diferentes níveis dentro da lógica e valores de governo aberto e de tecnologias livres, na qual o TOGI pode apoiar. Da parte do COLAB, posso dizer que plantamos lá algumas sementes sobre as tecnologias, ferramentas e práticas que acreditamos ser melhores para uma sociedade que desejamos que seja mais democrática e que cada vez é mais governada por máquinas e algoritmos. Penso que a sociedade pode obter ganhos com esse tipo de aproximação. A IBM é capaz – e está sendo convencida para isso – de desenhar um modelo de negócio mais moderno, ético e aberto para o setor público. A empresa tem uma enorme capacidade de mobilização de recursos e de inteligência. Já as universidades – através de centros de pesquisas engajados com o participação social, colaboração, a transparência com base em dados, formatos, protocolos e design abertos -, podem contribuir para o desenho de melhores sistemas e políticas de informação. Pessoalmente acredito na importância de mudanças estruturais que promovam a democratização das instituições governamentais, onde a informação passe a ser um bem público, a colaboração um método e a participação um direito.