Educação Política

Colab-USP no II Congresso Brasileiro de Comunicação Pública, Cidadania e Informação: o direito humano à comunicação e as ameaças da desinformação

“No encerramento do II ComPública, para além da riqueza resultante da fusão de ideias e experiências voltadas à promoção da comunicação pública e ao combate às ameaças da desinformação, destacou-se a leitura e aprovação da Carta de Natal. Este documento representa as conclusões fundamentais do congresso e reafirma o compromisso dos comunicadores com a defesa da Comunicação Pública

Por Wagner Luiz Taques da Rocha

No vibrante cenário de Natal (RN), o II Congresso Brasileiro de Comunicação Pública, Cidadania e Informação (II ComPública) tomou vida durante o mês de outubro. Uma notável colaboração entre a ABCPública e a Universidade Federal de Natal (UFRN) resultou neste encontro enriquecedor. O evento, permeado pelo tema “O direito humano à comunicação e as ameaças da desinformação”, recebeu a representação do CoLab-USP, marcada pela presença do pesquisador Wagner Rocha. 

O II ComPública reuniu um público diversificado, composto por profissionais, pesquisadores e estudantes, proporcionando um ambiente propício para a discussão de temas fundamentais relacionados às práticas de comunicação pública e sua interação intrínseca com a cidadania, direitos humanos e democracia.

O formato do evento foi estruturado de maneira a fomentar debates profundos e reflexivos. A programação abrangeu palestras, mesas-redondas e apresentações de artigos científicos, oferecendo uma abordagem abrangente sobre diversas questões. Entre os tópicos explorados, destacam-se as dinâmicas entre comunicação pública, mídias tradicionais e digitais; a interseção entre direitos humanos e decolonialidade; a complexidade da relação entre democracia, transparência e participação; as nuances da radiodifusão pública, privada e estatal no contexto brasileiro e latino-americano; o direito à informação e acessibilidade; além de considerações pertinentes sobre a gestão e governança da comunicação pública.

O pesquisador do CoLab-USP, Wagner Rocha, participou do Grupo de Trabalho “Comunicação, Democracia, Transparência e Participação” e apresentou o artigo “Comunicação pública como elemento para efetivação dos princípios de governo aberto na América Latina: interfaces teóricas e práticas”. O artigo estará disponível, em breve,em uma publicação da ABCPública. 

No encerramento do II ComPública, para além da riqueza resultante da fusão de ideias e experiências voltadas à promoção da comunicação pública e ao combate às ameaças da desinformação, destacou-se a leitura e aprovação da Carta de Natal. Este documento representa as conclusões fundamentais do congresso e reafirma o compromisso dos comunicadores com a defesa da Comunicação Pública. 

Com mais de 100 comunicadores endossando o documento, incluindo o pesquisador do CoLab-USP, Wagner Rocha, a Carta já está disponível para acesso na biblioteca da ABCPública. Este é um passo significativo na consolidação dos princípios discutidos e na promoção contínua da comunicação pública. 

Rute Souza (Agência Fotec/UFRN) 

Wagner Rocha (CoLab-USP)


Wagner Rocha é Doutorando em Mudança Social e Participação Política (ProMuSSP/EACH), mestre em Gestão de Políticas Públicas, graduado em Comunicação Social- Jornalismo e especialista em Comunicação Institucional e Gestão Pública. É Analista de Políticas Públicas e Gestão Governamental na Prefeitura de São Paulo.

INOVAÇÕES DEMOCRÁTICAS COM MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA CÍVICA DIGITAL NO CONTEXTO ESCOLAR

É possível transformar as políticas educacionais por meio do uso de ferramentas cívicas digitais de participação social

A pesquisa intitulada “INOVAÇÕES DEMOCRÁTICAS COM MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA CÍVICA DIGITAL NO CONTEXTO ESCOLAR”, desenvolvida pelo Doutorando Manoel dos Santos no Programa de Pós-graduação em Mudança Social e Participação Política na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, sob a orientação da Professora Drª Gisele da Silva Craveiro, focaliza a participação política com o uso de mediação tecnológica cívica digital para o monitoramento cidadão e avaliação de serviços e políticas públicas no ambiente escolar.

Esse estudo analisa como os processos de participação política em experiências de monitoramento cidadão, facilitados pelas plataformas cívicas de mediação tecnológica, contribuem para a produção, análise e uso de dados e informações na avaliação e tomada de decisão para a implementação de políticas públicas no contexto escolar. O período de análise compreende os anos de 2016 a 2021, durante o qual os casos estudados foram executados.

A pesquisa baseia-se na análise de cinco iniciativas incentivadas por órgãos de accountability burocrática, que visam produzir, analisar e utilizar dados e informações para a tomada de decisão, com o propósito de promover melhorias na execução de políticas e serviços públicos. As experiências específicas analisadas são as seguintes: 

  1. a campanha de monitoramento da merenda denominada Projeto Égua da Merenda, João!, no âmbito do Programa Nacional da Merenda Escolar, implementado em escolas estaduais pela CGU-Regional Pará, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação do Pará e envolvendo o Movimento Pacto Estudantil pela Educação Pará (MPEPEP) e a Organização Social Belém (OSB- Belém), em Santarém, no Pará, entre 2016 e 2018;
  2. o Projeto Monitorando a Merenda, uma iniciativa do Projeto Ouvidoria Ativa do Programa Nacional da Merenda Escolar, implementado em escolas estaduais pela CGU-Regional Pará, em parceria com a Faculdade de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Pará (UFPA), a Organização Social Belém (OSB- Belém) e a Secretaria de Estado da Educação do Pará, em Belém, Pará, entre 2016 e 2017;
  3. o Projeto Monitorando a Merenda, no âmbito do Programa Nacional da Merenda Escolar, implementado em escolas do Distrito Federal pela Controladoria Geral do Distrito Federal, com a anuência da Secretaria de Estado do Distrito Federal e a participação das escolas, do Instituto Federal de Fiscalização e Controle e do Center for Civic Media, em Brasília, entre 2016 e 2019;
  4. o Projeto Monitorando a Merenda, no âmbito do Programa Nacional da Merenda Escolar, implementado em escolas estaduais, capitaneado pela CGU-Regional Bahia, em parceria com a Secretaria da Educação do Estado da Bahia, com a Ouvidoria Vai à Escola da SEC/Ba e o Observatório Social da Despesa Pública de Jequié, entre 2018 e 2019 em Salvador, Jequié e Lauro de Freitas.
  5. o Projeto Estudantes de Atitude, é uma iniciativa desenvolvida no contexto escolar pela Controladoria Geral do Estado de Goiás (CGE-GO), em parceria com a Secretaria de Estado da Educação – SEDUC. 

Nessa etnografia do ecossistema brasileiro de participação política e cidadã, mediada por tecnologia cívica digital para o monitoramento e avaliação de serviços e políticas públicas no contexto escolar, a pesquisa aborda questões e iniciativas do mundo real, concentrando-se na melhoria dos serviços e políticas públicas nas escolas por meio da participação cidadã e da tomada de decisão baseada em dados, combinando abordagens top-down e bottom-up em configurações de arranjos socioestatais e societais.

As iniciativas de monitoramento cidadão e avaliação de serviços e políticas públicas no contexto escolar analisadas utilizam plataformas digitais como o Monitorando a Cidade e o WhatsApp nos quatro primeiros casos. Além disso, na quinta iniciativa, são empregadas diversas outras plataformas digitais, como o SurveyMonkey, Google Forms, Telegram, Whatsapp, Facebook, Instagram, Youtube e Smartsheet. Essas ferramentas tecnológicas digitais possibilitam a participação política e o empoderamento dos cidadãos nas relações e interfaces socioestatais e societais, através da coleta de dados e informações com mediação tecnológica cívica digital, permitindo identificar, compreender, colaborar, cocriar, incidir e transformar suas realidades por meio da cogovernança construída no contexto das inovações democráticas com o uso de tecnologias cívicas digitais.

De acordo com Gray (2016), dados e informações digitais devem ser usados para atender aos interesses da sociedade e dos cidadãos, por meio da “reimaginação da política de dados”, visando promover o desenvolvimento humano, o empoderamento cívico, o avanço do progresso social e o fortalecimento da democracia.

A utilização de ferramentas cívicas digitais na coleta de dados e informações possibilita a realização de “um processo coletivo que visa discutir questões críticas, obter informações para melhor compreendê-las e dialogar com atores locais para desenvolver soluções” (MARTANO et al., 2017).

Os resultados preliminares da pesquisa revelam que cada interfacemento dos mecanismos de accountability burocrática apresenta diferentes tipos e conformações de modelos e arranjos institucionais de monitoramento cidadão para a avaliação de serviços e políticas públicas. Verifica-se que, apesar do uso comum da mediação tecnológica cívica digital, em todas as iniciativas, o contexto sociopolítico contribui para a configuração de vontades políticas e de arranjos institucionais, levando a diferentes resultados.

Observa-se que a tecnologia cívica digital é um fator relevante para o engajamento dos cidadãos que adotam esse tipo de ferramenta como responsáveis pela coleta de dados, podendo fazer diferença para esse grupo social e arranjo específico, permitindo uma mudança positiva no processo de formulação e implementação de políticas e serviços públicos.

Assim, a participação política mediada por tecnologia cívica digital, nesses casos específicos, por meio da produção colaborativa de dados e informações com agilidade e relevância, contribui para aumentar a responsividade dos governos. Observa-se que os cidadãos apresentam contribuições e demandam serviços e políticas públicas de qualidade ao poder público, ativando ou interagindo com agências de accountability socioestatal e societal, exercendo o controle social, a fiscalização e a supervisão externa, em conjunto com a participação de atores da sociedade civil. A sociedade civil também exerce o controle social, articulando mecanismos e agências com poder de fiscalização e aplicação de sanções, conferindo legitimidade à participação da sociedade, sendo um ator estratégico para contribuir com a educação para a cidadania.


Para saber mais acesse o artigo intitulado “Processos de participação cidadã mediados por tecnologias digitais: um estudo sobre monitoramento participativo e avaliação de políticas públicas no contexto escolar”, publicado no 44o Encontro Anual da ANPOCS, realizado entre os dias 1 e 11 de dezembro de 2020.

Manoel dos Santos é Doutorando em Mudança Social e Participação Política pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e integrante do grupo de pesquisa Colaboratório de Desenvolvimento e Participação (CoLab-USP).

Gisele da Silva Craveiro é Doutora em Engenharia de Sistemas pela USP, Mestre pela Unicamp em Ciências da Computação. Orientadora e Professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, credenciada no Programa de Pós-graduação em Mudança Social e Participação Política, Líder do grupo de pesquisa Colaboratório de Desenvolvimento e Participação (CoLab-USP).

Educação política na escola

Experiências de monitoramento participativo mediadas por tecnologia

Gisele Craveiro, Prof. Dra. do Programa de Pós-graduação em Mudança Social e Participação Política (EACH – USP)

Carla Aragão, Doutora em Educação (UFBA)

Lílian Bartira Silva, Doutoranda em Educação (UFBA) 

Educação política deve estar na escola? Essa é uma discussão que costuma gerar melindres na sociedade e mesmo entre os pesquisadores do campo. Entretanto, há alguns consensos que podem apoiar o debate no campo educacional. Um deles é de que a cidadania é fortalecida por processos educativos e participativos que privilegiem a dimensão política e, consequentemente, favorecem uma cultura democrática.

Paulo Freire, um dos expoentes na defesa dessa perspectiva, apresenta a escola como um dos principais lócus da vivência do modelo democrático de Estado, ideia reforçada por Coppi (2021), que vê a escola como principal aliada no enfrentamento dos desafios nas democracias, pois “mimetiza a sociedade na qual está inserida” (p.119).

Considerando o contexto atual de grave crise democrática, nos perguntamos em um texto que produzimos para o Data Blog da iniciativa Data Talks da Universidade de Munster, na Alemanha, sobre como tem ocorrido a superação da “inexperiência democrática” (FREIRE, 1967) no contexto escolar e como essas experiências dialogam com o processo de digitalização da sociedade e, consequentemente, com os impactos do digital no exercício da democracia.

Atualmente, dezenas de pesquisadores dialogam, formulam e pesquisam experiências de Educação Política, com o objetivo de disseminar conteúdos fundamentais para o amadurecimento da democracia e o exercício político dos cidadãos. Em comum, muitos trabalhos enfocam desafios, características e experiências que abordam as relações dos jovens com a política e outros aspectos relevantes para a efetivação desse tipo de conteúdo no cotidiano escolar.

O outro ponto de discussão que propomos no texto são as experiências de auditoria cívica desenvolvidas por órgãos públicos com foco no monitoramento participativo mediado por tecnologias cívicas digitais no contexto escolar. Essa escolha foi feita por pelo menos dois motivos: a necessidade de fortalecer as discussões sobre essas iniciativas, cujas pesquisas ainda são incipientes, especialmente no campo educacional; e a compreensão de seu impacto, considerando o caráter inovador das propostas e compromisso com o revigoramento do regime democrático, a partir da ampliação e qualificação da participação social de alunos e professores da rede pública.

Ficou curiosa(o) para saber mais sobre esse debate? Então, que tal ler o artigo completo ?