Tese desenvolvida no CoLab-USP sobre as Senadoras brasileiras, a partir do reuso de dados abertos, é defendida na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP-Leste

Enquanto Centro de Pesquisa, o Colaboratório de Desenvolvimento e Participação (Colab-USP), tem como uma de suas principais características a multiplicidade de perspectivas científicas que dialogam, entre si, para a construção de pesquisas inovadoras na Universidade de São Paulo (USP). A interdisciplinaridade é uma premissa que sustenta o trabalho coletivo do Grupo ao longo de mais de 10 anos de história. 

Cheguei nesse barco em 2022, vinda de uma formação na Ciência Jurídica, entre graduação e mestrado, que já apontava para algumas das contradições inerentes à relação entre a teoria constitucional e a teoria social tradicionais, diante das disparidades entre o que se expressa na norma jurídica e o que se encontra na materialidade da vida. Especialmente, em relação a grupos historicamente excluídos dos espaços públicos de deliberação política.   

Quando ingressei no doutorado em Mudança Social e Participação Política da USP, conheci o Colab-USP e mirei na possibilidade de unir uma reflexão crítica sobre a democracia representativa e gênero, enquanto grupo não homogêneo, com o reuso de dados abertos disponibilizados pelas instituições públicas. A escolha pelo Senado Federal veio da constatação da baixa produção científica sobre o tema nos estudos de sociologia política e de gênero. 

Os dados obtidos auxiliaram na definição do perfil de quem são as mulheres que chegaram no Senado Federal, quando e como construíram suas carreiras políticas e se suas agendas se articulam, ou não, à agendas políticas emancipadoras às mulheres brasileiras. 

Foi nessa toada que a tese “A construção da representação política feminina no Senado Federal” foi elaborada, sob a orientação do professor Jorge Machado, um dos coordenadores do Colab-USP, defendida em agosto de 2025 e publicada recentemente no repositório de Teses e Dissertações da USP. 

A experiência no Colab-USP foi imprescindível para a realização da pesquisa. Até meu ingresso no grupo, minhas reflexões não dialogam com dados quantitativos que sustentasse uma análise qualitativa da experiência política das Senadoras. Foram as trocas entre os integrantes e coordenadores, a participação da prof.ª Dra. Ester Rizzi (EACH/USP), também coordenadora do Colab, na qualificação do doutorado, que permitiram a elaboração não só de códigos de extração dos dados abertos no Senado Federal, como também expandiram meus horizontes de crítica ao objeto da pesquisa. 

A sistematização e análise dos dados obtidos, com enfoque nas epistemologias da teoria política feminista e da teoria crítica social brasileira, resultou em uma tese que traça um quadro socio-político-normativo-histórico da inserção e desenvolvimento da presença de mulheres na elite política legislativa e como isso se desdobrou em produções legislativas sobre gênero no Senado Federal. A partir de marcadores interseccionais como gênero, raça, classe, traçou-se um perfil das 38 senadoras brasileiras eleitas como titulares de chapa em mandatos eletivos disputados entre 1990 a 2022, bem como apresentou-se os projetos de lei ordinária propostos pelas parlamentares que tratam, direta ou indiretamente, sobre gênero. 

A reutilização dos dados abertos disponibilizados no Congresso Nacional e no Tribunal Superior Eleitoral foi imprescindível para o êxito da pesquisa e demonstra como os investimentos públicos em transparência e accountability também promovem a produção científica brasileira, especialmente na área de Ciências Humanas e Sociais. A banca avaliadora foi composta pelas professoras Dra. Amanda Muniz (UFJF), Dra. Camila Galetti (UNB/IFB) Dra. Flavia Rios (FFLCH/USP) e a Dra. Gisele Craveiro (EACH/USP), também coordenadora do Colab-USP.

Os resultados obtidos podem ser consultados na tese, já disponibilizada de forma aberta e gratuita no Repositório de Teses e Dissertações da USP. Visando a ampla divulgação das informações coletadas, também foi elaborado um infográfico que pode ser acessado no link: https://alanafvalerio.github.io/infografia-senadoras/.

Colab-USP participa da primeira reunião do quarto Fórum de Governo Aberto como representante acadêmico novamente

O Colaboratório de Desenvolvimento e Participação (Colab-USP), grupo de pesquisa interdisciplinar da Universidade de São Paulo (USP), retoma seu papel como representante acadêmico no Fórum de Gestão Compartilhada (FGC) de Governo Aberto da cidade de São Paulo. Após contribuir ativamente no terceiro plano de ação (2021–2024), o grupo marca presença mais uma vez na construção coletiva das políticas de governo aberto do município.

Desde sua fundação em 2014, o Colab-USP se destaca na produção de pesquisas, tecnologias cívicas e iniciativas colaborativas que promovem a transparência pública, o uso ético de dados e a participação cidadã. Reconhecido nacional e internacionalmente, o grupo é certificado pelo CNPq e formado por pesquisadores, estudantes e parceiros institucionais comprometidos com a inovação democrática.

Em sua trajetória, o Colab tem estabelecido parcerias relevantes com a Prefeitura de São Paulo em projetos como o Diário Aberto e o Cuidando do Meu Bairro, e mantém uma atuação sólida na articulação entre academia, governo e sociedade civil. No último plano de governo aberto do município, sua atuação foi central nas etapas de cocriação, implementação e monitoramento, especialmente no compromisso voltado à abertura de dados sobre os impactos da COVID-19 nas áreas de saúde e educação.

Nesta nova etapa, o Colab-USP é representado por Emilly Espildora e Gabriel Inácio. A primeira reunião do novo ciclo do fórum ocorreu recentemente, com foco em integração entre os membros e construção coletiva de combinados para garantir um funcionamento colaborativo e eficiente. Também foi realizada uma atividade de visão de futuro, em que os participantes refletiram sobre metas de sucesso para os próximos quatro anos e desafios que podem impactar o andamento do fórum.

As próximas reuniões incluirão formações sobre indicadores, planos municipais de planejamento e espaços de participação. Após essa etapa formativa, o fórum dará início à elaboração do novo plano estratégico, alinhado às diretrizes da Parceria para Governo Aberto (OGP).

Com mais essa participação, o Colab-USP reafirma seu compromisso com a construção de políticas públicas mais transparentes, participativas e abertas à sociedade.

O COLAB-USP ESTÁ CONCORRENDO A REELEIÇÃO PARA O 4º FÓRUM DE GESTÃO COMPARTILHADA EM GOVERNO ABERTO PARA A CIDADE DE SÃO PAULO

E contamos com o seu voto para continuar com esse legado!

Foram 4 anos colaborando e construindo juntos um governo mais aberto, participativo e transparente para os moradores de São Paulo e queremos continuar no fortalecimento desta pauta.

Desde 2014, o Colaboratório de Desenvolvimento e Participação (COLAB-USP) atua na USP Leste como centro de pesquisa, inovação e formação de pessoas. Somos parceiros históricos da OGP e do Governo Aberto Federal, sendo uma das pioneiras desse tema no país e contribuímos ativamente para a consolidação do movimento de Governo Aberto no Brasil.

Entre os dias 23 a 31 de maio, qualquer pessoa cadastrada no portal “Participe+” pode votar nas entidades que vão cocriar políticas públicas de Governo Aberto com a Prefeitura de São Paulo.

📌 Contamos com o seu voto: Clique aqui para votar!

A IA Generativa e o Futuro da Participação Cidadã: Pesquisas em Andamento

Desde outubro de 2024, o Prof. Jorge Machado está no The Open Government Institute, da Universidade Zeppelin, na Alemanha. No dia 17 de fevereiro, junto com o Prof. José Carlos Vaz, do curso Gestão de Políticas Públicas da USP, ele apresentou descobertas sobre como a inteligência artificial generativa pode transformar a administração pública e a participação social.

Ambos pesquisadores investigam como modelos de linguagem avançados podem ser utilizados para melhorar a qualidade e a eficácia em processos de participação cidadã. No entanto, há desafios a serem superados. Um deles é que os cidadãos frequentemente têm dificuldade em formular suas demandas de forma estruturada. Isso faz que muitas propostas fracassem devido a obstáculos legais ou financeiros.

A IA poderia ajudar a gerar propostas com base em bancos de conhecimento e transformá-las em minutas juridicamente viáveis.

Friedrichshafen feb2025

Desafios e questões éticas

Essa abordagem levanta preocupações importantes:

  • Como estabelecer padrões e diretrizes para o uso de IA em processos participativos?
  • Quais são os riscos éticos, como manipulação, vieses ou falta de transparência nas decisões?
  • Testes recentes com modelos como GPT 4.0 e LLaMA mostram resultados promissores, mas também destacam a necessidade de sistemas de IA auditáveis, seguros e transparentes.

Outro problema é a assimetria no acesso a dados públicos: enquanto empresas e organizações usam ferramentas analíticas avançadas, muitos cidadãos carecem de conhecimento e acesso a essas tecnologias.

IA para fortalecer a participação

O foco atual é desenvolver IA generativa que fortaleça processos participativos, servindo como ponte entre governo e sociedade, sem comprometer a integridade das decisões. Governos e administrações públicas precisam entender a reflexividade da IA para aproveitar seu potencial de forma responsável.

Contribuição do Prof. José Carlos Vaz

O Prof. Dr. José Carlos Vaz – que atualmente ocupa a cátedra da CAPES Brasil-Alemanha, na Universidade de Muenster – complementa essa pesquisa com seu trabalho sobre participação online em cidades inteligentes. Seu modelo analítico estuda como as tecnologias digitais podem transformar o engajamento político em áreas urbanas, abordando temas como:

  • Inclusão digital
  • Transparência
  • Governança

Sua recente visita à Universidade de Zeppelin reforçou a importância da cooperação internacional para compartilhar conhecimento e aprimorar conceitos inovadores de participação digital.

A combinação de IA generativa e plataformas digitais de participação pode estabelecer um novo padrão para processos decisórios democráticos — desde que questões éticas e regulatórias sejam devidamente consideradas.

Esse texto foi por Joern Von Lucke (Zeppelin Universitaet), traduzido do alemão e adaptado para esta versão.

Colab em evento na Universidade de Münster sobre IA e Participação

No dia 13 de janeiro de 2025, participei do seminário internacional “Exploring Online Political Participation and AI in Local Governments”, realizado no Institut für Politikwissenschaft (IfPol), da Universidade de Münster, na Alemanha. O evento reuniu pesquisadores para discutir as mais recentes pesquisas sobre participação política online em governos locais e o papel da inteligência artificial (IA). A sessão foi organizada pelo Prof. Dr. Norbert Kersting e contou com a participação de especialistas do IfPol, da Brazil Chair e outros convidados, como eu, representando o COLAB/USP e a Zeppelin Universität, onde estou como professor visitante.

Durante o seminário, apresentei o trabalho intitulado “Participatory Public Management using Generative AI: studies and evidence on its application”. Minha apresentação explorou os potenciais e desafios do uso de IA generativa na gestão pública participativa. Abordei como essa tecnologia pode ser utilizada para aprimorar a qualidade das propostas feitas por cidadãos e cidadã, aumentando também suas chances de aprovação em processos de consulta pública. No evento, compartilhei alguns testes sobre sua aplicação em contextos locais, destacando suas vantagens e desafios.

O evento foi uma oportunidade interagir com pesquisadores na Universidade de Münster, trocando ideias sobre como a IA pode transformar as relações entre governos locais e a sociedade. As discussões também reforçaram a importância de integrar tecnologias emergentes com princípios éticos e democráticos, garantindo que o uso da IA seja guiado por valores que promovam a transparência e direitos.

Colab-USP no II Congresso Brasileiro de Comunicação Pública, Cidadania e Informação: o direito humano à comunicação e as ameaças da desinformação

“No encerramento do II ComPública, para além da riqueza resultante da fusão de ideias e experiências voltadas à promoção da comunicação pública e ao combate às ameaças da desinformação, destacou-se a leitura e aprovação da Carta de Natal. Este documento representa as conclusões fundamentais do congresso e reafirma o compromisso dos comunicadores com a defesa da Comunicação Pública

Por Wagner Luiz Taques da Rocha

No vibrante cenário de Natal (RN), o II Congresso Brasileiro de Comunicação Pública, Cidadania e Informação (II ComPública) tomou vida durante o mês de outubro. Uma notável colaboração entre a ABCPública e a Universidade Federal de Natal (UFRN) resultou neste encontro enriquecedor. O evento, permeado pelo tema “O direito humano à comunicação e as ameaças da desinformação”, recebeu a representação do CoLab-USP, marcada pela presença do pesquisador Wagner Rocha. 

O II ComPública reuniu um público diversificado, composto por profissionais, pesquisadores e estudantes, proporcionando um ambiente propício para a discussão de temas fundamentais relacionados às práticas de comunicação pública e sua interação intrínseca com a cidadania, direitos humanos e democracia.

O formato do evento foi estruturado de maneira a fomentar debates profundos e reflexivos. A programação abrangeu palestras, mesas-redondas e apresentações de artigos científicos, oferecendo uma abordagem abrangente sobre diversas questões. Entre os tópicos explorados, destacam-se as dinâmicas entre comunicação pública, mídias tradicionais e digitais; a interseção entre direitos humanos e decolonialidade; a complexidade da relação entre democracia, transparência e participação; as nuances da radiodifusão pública, privada e estatal no contexto brasileiro e latino-americano; o direito à informação e acessibilidade; além de considerações pertinentes sobre a gestão e governança da comunicação pública.

O pesquisador do CoLab-USP, Wagner Rocha, participou do Grupo de Trabalho “Comunicação, Democracia, Transparência e Participação” e apresentou o artigo “Comunicação pública como elemento para efetivação dos princípios de governo aberto na América Latina: interfaces teóricas e práticas”. O artigo estará disponível, em breve,em uma publicação da ABCPública. 

No encerramento do II ComPública, para além da riqueza resultante da fusão de ideias e experiências voltadas à promoção da comunicação pública e ao combate às ameaças da desinformação, destacou-se a leitura e aprovação da Carta de Natal. Este documento representa as conclusões fundamentais do congresso e reafirma o compromisso dos comunicadores com a defesa da Comunicação Pública. 

Com mais de 100 comunicadores endossando o documento, incluindo o pesquisador do CoLab-USP, Wagner Rocha, a Carta já está disponível para acesso na biblioteca da ABCPública. Este é um passo significativo na consolidação dos princípios discutidos e na promoção contínua da comunicação pública. 

Rute Souza (Agência Fotec/UFRN) 

Wagner Rocha (CoLab-USP)


Wagner Rocha é Doutorando em Mudança Social e Participação Política (ProMuSSP/EACH), mestre em Gestão de Políticas Públicas, graduado em Comunicação Social- Jornalismo e especialista em Comunicação Institucional e Gestão Pública. É Analista de Políticas Públicas e Gestão Governamental na Prefeitura de São Paulo.

Colab-USP participa da entrega de compromisso do 3º Plano de Ação em Governo Aberto da Cidade de São Paulo

“O encontro contou com a participação de servidores, membros do Fórum de Gestão Compartilhada, acadêmicos, integrantes do Conselho Participativo e toda a comunidade para assistir as falas das áreas da Saúde e Educação, Secretarias responsáveis pela implementação do compromisso

Por Emilly Espildora e Gisele Craveiro

O terceiro e mais recente Plano de Ação em Governo Aberto (2021-2024) do município de São Paulo, na Parceria por um Governo Aberto (Open Government Partnership), foi elaborado entre fevereiro e setembro de 2021, após a atualização da composição do Fórum de Gestão Compartilhada (FGC), cuja representação acadêmica é exercida pelo Colab-USP. O processo envolveu oito macroetapas, abrangendo atividades como consultas públicas, oficinas e reuniões abertas a toda a população.

O 3º Plano possui quatro Compromissos, desdobrados em quatro marcos cada, que devem ser executados pela Prefeitura, em parceria com a sociedade civil, até outubro de 2024. Os compromissos são:

    Compromisso 1: Aprimorar as ferramentas de informações e dados sobre licitações e contratações, qualificando e ampliando a transparência da Prefeitura da Cidade de São Paulo.

    Compromisso 2: Fortalecer o engajamento da população para o monitoramento da implementação da Agenda Municipal 2030.

    Compromisso 3: Promover ações para fortalecimento institucional dos Conselhos e Colegiados de Políticas Públicas na Cidade de São Paulo.

    Compromisso 4: Geração e disponibilização de dados sobre infraestrutura hospitalar e vacinação no Município de São Paulo e o impacto da Covid-19 na frequência escolar dos estudantes da Rede Municipal de Educação.

No dia 29 de novembro de 2023, foi entregue o Compromisso 4 do 3º Plano de Ação em Governo Aberto da Cidade de São Paulo em evento na Secretaria de Educação Municipal. No Compromisso 4, há o compromisso de gerar e disponibilizar dados sobre infraestrutura hospitalar e vacinação no Município de São Paulo e sobre o impacto da Covid-19 na frequência escolar dos estudantes da Rede Municipal de Educação.

O encontro contou com a participação de servidores, membros do Fórum de Gestão Compartilhada, acadêmicos, integrantes do Conselho Participativo e toda a comunidade para assistir as falas das áreas da Saúde e Educação, Secretarias responsáveis pela implementação do compromisso.

O Colab-USP, na pessoa de Emilly Espildora que exerce a titularidade da representação acadêmica, no Fórum de Gestão Compartilhada foi convidada a compor a mesa de abertura do evento como representante da sociedade civil. Sua fala abordou o processo de co-criação do compromisso e os aprendizados adquiridos, buscando inspirar outros setores a reavaliar os dados abertos em seu cotidiano

O Colab-USP fez parte do grupo de trabalho que se reuniu mensalmente nos últimos dois anos para implementação dessa agenda. Como resultado, a Prefeitura desenvolveu plataformas, painéis e guias de facilitação sobre os dados vinculados à pandemia.

Para conhecer mais sobre o terceiro plano de ação em governo aberto, acesse: Terceiro Plano de Ação em Governo Aberto | Casa Civil | Prefeitura da Cidade de São Paulo


Gisele Craveiro é Profa. Dra. da Universidade de São Paulo (USP). Coordenadora do CoLab (USP). Integrante do Comitê da Iniciativa Latino-Americana de Dados Abertos (ILDA) e da Rede Internacional de Justiça Aberta (RIJA)

Emilly Espildora é Pesquisadora da Rede Conhecimento Social. Bacharel em Gestão de Políticas Públicas e pesquisadora do Colab-USP. Desde 2017 atua e pesquisa sobre processos de participação social, com foco em pesquisas coletivas. Sendo jovem pesquisadora, tem se aprofundado na temática de juventudes.

Membros do Colab Participam do CODA.BR

O evento também celebrou os 10 anos de fundação da Open Knowledge Brasil, organização que já contou com a Coordenadora do Co.Lab, Gisele Craveiro, como Conselheira.

Por Alana Fagundes Valério

Aconteceu em São Paulo a 8ª Edição da Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais (Coda.Br), o principal evento de jornalismo de dados da América Latina. E o Co.Lab esteve presente. 

Ao longo dos dias 18 e 19 de novembro, foram realizadas diversas mesas e workshops para toda a comunidade de dados, com a participação de jornalistas, cientistas de dados, estatísticos, dentre outros profissionais que aliam dados e fatos em busca de uma sociedade mais democrática. 

O evento também celebrou os 10 anos de fundação da Open Knowledge Brasil, organização que já contou com a Coordenadora do Co.Lab, Gisele Criveiro, como Conselheira. 

Foram apresentados diversos projetos que combinam dados abertos e inovação, como o projeto Querido Diário, que contribui com a abertura de dados dos diários oficiais de várias cidades brasileiras e que contou com a participação de integrantes do Co.Lab. 

Também foram apresentados o índice de dados abertos no nível municipal, projeto da OK BR e o mapa da violência de gênero, em parceria do Gênero e Número com o Senado Federal e o Instituto Avon. 

A seguir, alguns registros do evento: 


Alana é graduada em Direito pela Toledo de Presidente Prudente (2015) e mestra em Ciência Jurídica pela UENP/PR (2018). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política na USP/SP. Advogada e professora universitária nas áreas de Direitos Humanos e Direito Administrativo. Membro do CoLab na EACH/USP.

Como os dados abertos impactam a vida cotidiana?

“A abertura de dados é condição fundamental para o fortalecimento da democracia, pois promove a ampliação e qualificação do controle social, por meio da participação cidadã e mais acesso a informações sobre as atividades do governo e gastos públicos,  possibilitando a fiscalização das políticas públicas e a redução da corrupção

Por Carla Aragão e Gisele Craveiro – CoLAB USP

O Brasil foi escolhido para ser o país sede da próxima edição da Condatos – Conferência Regional para Dados Abertos da América Latina e Caribe e do Abrelatam – Encontro Aberto para uma Região Aberta, eventos mais renomados e antigos da América Latina sobre dados abertos.

O anúncio foi feito este mês, em Montevidéu (UY), durante a realização da 10a edição dos eventos. A delegação brasileira, formada por representantes do governo, da academia e da sociedade civil, celebrou a oportunidade de alavancar o debate no país, onde a maioria das pessoas desconhece o impacto dos dados abertos na vida cotidiana.  

A abertura de dados é condição fundamental para o fortalecimento da democracia, pois promove a ampliação e qualificação do controle social, por meio da participação cidadã e mais acesso a informações sobre as atividades do governo e gastos públicos,  possibilitando a fiscalização das políticas públicas e a redução da corrupção.

Durante a edição em Montevidéu, as autoras deste artigo integraram o painel Produção colaborativa de dados com crianças e jovens para monitoramento participativo, com apresentação de experiências de engajamento de estudantes na produção de dados sobre a qualidade da educação, da alimentação escolar e do meio ambiente.

O projeto Estudantes de Atitude foi apresentado por Diego Ramalho (CG-GO), cabendo a Marcelo Morais de Paula (CGU-PA) contar a experiência de monitoramento da merenda realizada no Pará; a exposição da iniciativa Controladoria nas Escolas (CGDF) também se alinhou à proposta de discutir dados abertos com propósito e por direitos, filosofia de ambos eventos.

Representantes da sociedade civil expuseram seus trabalhos, a exemplo do data_labe, laboratório de geração, análise e divulgação de dados do Complexo da Maré (RJ); e a Open Knowledge Brasil (OKBR), que desenvolve ferramentas cívicas.

A OKBR e a Controladoria Geral da União (CGU) vão liderar a organização dos eventos e terão que encarar agendas desafiadoras, como a expansão da participação das populações negras e indígenas e de pessoas com deficiência; além de contemplar temas como violência online, inteligência artificial e monitoramento do clima, que figuram entre os prioritários.

A agenda de dados abertos está recuperando espaço no Brasil. Em setembro, foi realizada a Semana Dados BR 2023 com debates sobre governança de dados, infraestruturas públicas digitais, entre outros, em parceria com o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e a CGU. 

O país, no âmbito da Parceria para Governo Aberto (Open Government Partnership – OGP), está empenhado na realização do 6° Plano de Ação Nacional, desenvolvido este ano e que contou com contribuições de uma consulta pública. Temos muito trabalho pela frente.

Texto publicado no Jornal A Tarde, p. A3 – Novembro/23


Gisele Craveiro é Profa. Dra. da Universidade de São Paulo (USP). Coordenadora do CoLab (USP). Integrante do Comitê da Iniciativa Latino-Americana de Dados Abertos (ILDA) e da Rede Internacional de Justiça Aberta (RIJA)

Carla Aragão é Doutora em Educação (UFBA), Jornalista e Gestora Social. Integrante dos grupos de pesquisa GEC (UFBA) e CoLab (USP). @carla.azevedo.aragao

O dia da consciência negra como resposta ao epistemicídio

Por Alana Fagundes Valério, Colab/USP

A Lei n.º 17.746/23 foi sancionada no estado de São Paulo recentemente e estabeleceu o dia 20 de novembro como dia da consciência negra. Essa data já era comemorada na cidade de São Paulo e foi ampliada. Isso poderia ser observado como um sinal de avanço, se a experiência vivida não apontasse o inverso. 

Como já cantava Elza Soares, “a carne mais barata do mercado é a carne negra”. Seja pelas representações que reforçam estigmas, pela ausência de corpos negros nos espaços de conhecimento e deliberação, o fenômeno do racismo estrutural pode ser verificado na composição dos principais espaços públicos. 

A esse vazio pode-se atribuir alguns sentidos. Sueli Carneiro, em sua tese de doutoramento, defendida em 2005, cunhou uma expressão que parece ser apropriada para o fenômeno em questão: “epistemicídio”. O epistemicídio pode ser conceituado como o apagamento sistemático dos conhecimentos afrodiaspóricos ao longo dos últimos séculos, como forma de dominação dos corpos negros. 

Esse apagamento sistemático impacta todas as áreas do conhecimento. Os  avanços tecnológicos e digitais também são afetados, inevitavelmente. Por se tratar de um espaço hegemonicamente branco e masculino, o racismo estrutural se manifesta na composição das equipes de trabalho e nos conteúdos produzidos, por exemplo. Como afirma a prof.ª Gisele Craveiro, coordenadora do Colab, em matéria publicada na Revista Claudia 1: “Um grupo homogêneo não terá visões de mundo diferentes para incluir na plataforma, o que prejudica desde o design à experiência final do usuário”. 

Se o epistemicídio é uma prática inerente às relações de poder, e ocorre quando uma cultura se sobrepõe a outra ao ponto de apagá-la, destruí-la, é imprescindível que a presença de corpos negros ocorra em todos os espaços, inclusive nos espaços digitais, para contrapor as noções hegemônicas e universalizantes de vida e conhecimento. Considerar a intersecção da raça para compreender os avanços e retrocessos que o espaço digital produziu na coletividade pode ser um dos caminhos para combater as discriminações estruturais que a sociedade brasileira enfrenta cotidianamente.

1 – Leia mais “Como a internet reproduz machismo e racismo – e às vezes você nem percebe” disponível em: https://claudia.abril.com.br/sua-vida/algoritmo-machismo-racismo/ 

Alana é graduada em Direito pela Toledo de Presidente Prudente (2015) e mestra em Ciência Jurídica pela UENP/PR (2018). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política na USP/SP. Advogada e professora universitária nas áreas de Direitos Humanos e Direito Administrativo. Membro do CoLab na EACH/USP.