Monitorando a Cidade

Achados Preliminares sobre o Monitoramento Cidadão da Merenda no Pará

Esse mês finalmente concluímos dois documentos relatando nossos achados iniciais sobre a Segunda Fase do projeto Monitorando a Cidade.

Com o apoio do Instituto Humanitas360, a Segunda Fase começou no segundo semestre de 2016 com o objetivo de compreender melhor o uso do Monitorando em campo. Ao longo de 12 meses nós trabalhamos com o Centro de Mídias Cívicas do MIT, o Observatório Social de Belém, o Projeto SOL, a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Controladoria Geral da União (CGU) para documentar três iniciativas de monitoramento cidadão no estado do Pará, onde a ferramenta foi mais usada.

Os três casos acompanhados ocorreram em três cidades distintas e fizeram o monitoramento da qualidade da merenda servida em escolas públicas. Apesar de ser um dos maiores e mais amplos do mundo, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) ainda enfrenta diversos desafios em múltiplos níveis de implementação, deixando estudantes ao redor do país com merendas inadequadas ou mesmo ausentes.

Somando as três iniciativas, a merenda foi monitorada em 28 escolas, que totalizam mais de 26 mil estudantes matriculados. Sendo que cada caso envolveu um conjunto único de fatores e abordagens para buscar melhorias na consistência e qualidade das merendas.

Abaixo estão algumas de nossas principais observações advindas de nossas três visitas ao Pará, realizando grupos focais e entrevistas com membros das organizações parceiras, estudantes, professoras, gestores, merendeiras, representantes do Ministério Público, CGU, Secretaria de Educação do Estado e Conselho Escolar.

Resultados para a merenda
Participantes de várias escolas relataram melhorias na preparação, armazenamento e na qualidade dos ingredientes das merendas servidas como resultado da campanha de monitoramento. Gestores das escolas, em alguns casos, ficaram mais atentos às entregas de alimentos, recusando alimentos fora do prazo de validade ou próximos do vencimento, além de buscarem melhorias de higiene e organização das salas de armazenamento do estoque.

Maior compreensão da merenda como um direito
Em todos os casos os estudantes relataram um melhor entendimento sobre o PNAE e seus direitos quanto à merenda. Muitos sentiram que esse entendimento colaborou para incentivá-los a mobilizar sobre a questão.

Maior curiosidade e engajamento por parte dos estudantes
Alguns professores e gestores afirmaram que os estudantes envolvidos nas campanhas demonstraram uma maior vontade de expandir o monitoramento para outros desafios na escola, chegando a mobilizá-los a participar de atividades de manutenção da escola.

Monitoramento cidadão como uma ferramenta de aprendizagem
Particularmente na UFPA, as experiências com o Monitorando ofereceram uma nova perspectiva sobre seu uso de maneira pedagógica, criativa e crítica para a criação de novos modelos de monitoramento de serviços públicos. Para muitos estudantes, os projetos de monitoramento foram a primeira vez em que puderam aplicar esse tipo de conhecimento fora da sala de aula, evidenciando grande motivação em poder aplicar seus conhecimentos teóricos em interações reais com outros cidadãos. Para a CGU, a ferramenta ofereceu uma maneira de testar em maior escala um formato de iniciativa que a interessava, mas que ainda não tinha tido a oportunidade de implementar.

O poder de parcerias intersetoriais para o monitoramento
Em Santarém e Belém, as abordagens para monitoramento desenvolvidas pelos organizadores das campanhas envolveram a colaboração ativa entre sociedade civil, agências de controle governamentais e, no caso de Belém, a comunidade acadêmica. Os participantes sentiram que essas parcerias foram maneiras poderosas de reunir habilidades, conhecimento e redes em busca de resolver os complexos desafios compartilhados.

O valor da colaboração com agências de controle governamental
Nos três casos, o MP ou a CGU tiveram um papel fundamental como receptores das informações e articuladores para a resolução dos problemas. Apesar de na Primeira Fase do projeto as agências governamentais não terem sido imaginadas como colaboradoras na implementação de campanhas, essa parceria tem se mostrado benéfica para todos os envolvidos.

Desenvolvimento e consolidação de parcerias
O desenvolvimento e implementação de campanhas proveu oportunidades para novas parcerias e fortalecimento das relações existentes. Quanto às escolas, entrevistados relataram uma aproximação entre estudantes, merendeiras, professores, gestoras, MP e poder executivo, como resultado das campanhas. No nível organizacional, as iniciativas possibilitaram a atores já próximos o desenvolvimento de um projeto concreto pela primeira vez.

Tecnologia auxiliando a escalar, agilizar e dar visibilidade
Tanto participantes como organizadores das campanhas sentiram que a plataforma permitiu a eles conseguir uma maior escala, economizar tempo e atrair a atenção de novos participantes e da mídia. Estudantes que já haviam usado Facebook para documentar a merenda sentiram que o Monitorando proveu maior credibilidade à informação coletada. Diversos atores afirmaram o poder das imagens para mobilizar o público e provocar reações pela busca de soluções.

Esses trechos foram extraídos do sumário da Segunda Fase, do qual também temos uma versão em inglês. Estes documentos sumarizam os três casos acompanhados, ocorridos nas cidades de Santarém, Ponta de Pedras e Belém. Além disso, também temos um relatório que analisa em maior profundidade os casos de Santarém e Ponta de Pedras, iniciados antes do de Belém.

Encontro de parceiros do projeto Monitorando a Cidade

Ao final de janeiro, em São Paulo, reunimos o incrível grupo de parceiros que estiveram trabalhando no piloto da Fase 2 do projeto Monitorando a Cidade para compartilhar aprendizados do ano passado e discutir os próximos passos para o projeto. Esta equipe multi-setorial de estrelas incluía representantes de organizações da sociedade civil, agências governamentais de supervisão, academia e financiadores de engajamento cívico na América Latina.

Ao longo de vários dias, exploramos os estudos de caso da implementação do Monitorando para discutir elementos de sucesso, lidar com desafios sociais, institucionais e técnicos e explorar como podemos compartilhar melhor nossos aprendizados com um público mais amplo.

Estaremos publicando um relatório mais longo com reflexões sobre esta fase do projeto no próximo mês, mas algumas coisas se destacaram em nossas conversas:

  • Nós somos profundamente afortunados por trabalhar com tão talentosos organizadores sociais como Ivan e Eliana! A sua dedicação, carisma e estratégia são essenciais para os sucessos que vimos em Belém e Santarém.
  • A parceria com agências governamentais de supervisão (Ministério Público e Controladoria Geral da União) tem sido crítica para permitir que grupos da sociedade civil canalizem suas preocupações e monitorem dados em ações concretas.
  • Reunir sociedade civil, academia e agências de supervisão é uma forma poderosa de alavancar as competências, o conhecimento e as redes para enfrentar desafios comuns.
  • Em virtude de ser uma plataforma tecnológica, o Monitorando permitiu aos parceiros alcançar maior escala, economizar tempo, atrair novos participantes e aumentar a cobertura da mídia.
  • É impossível separar o uso do Monitorando do rico contexto de engajamento social. Os êxitos não podem ser atribuídos apenas à tecnologia.

 

Estamos ansiosos para compartilhar nossos resultados em uma variedade de meios ao longo dos próximos meses, incluindo posts, artigos acadêmicos e eventos em São Paulo e Belém. Somos infinitamente gratos por ter a oportunidade de trabalhar e sonhar com esta equipe e mal podemos esperar para ver as colaborações futuras que emergerão deste grupo!

Um enorme obrigado a essa equipe incrível:

 

Eliana Mara, Projeto SOL
Lidiane Dias, Universidade Federal do Pará
Marcelo Morais de Paulo, Controladoria Geral da União
Ivan Costa, Observatório Social de Belém
Gisele Craveiro, Universidade de São Paulo Colab
Andres Martano, Universidade de São Paulo Colab
Marisa Villi, Universidade de São Paulo Colab
Paulo Rezende, Humanitas360
Emilie Reiser, MIT Center for Civic Media

(traduzido de: Promise Tracker)

Visita ao movimento de Santarém engajado com a merenda

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Santarém

Esta semana tivemos a honra de nos encontrar com os líderes do impressionante Movimento Pacto Estudantil pela Educação no Pará, que têm, ao longo dos últimos meses, monitorado merendas através do Promise Tracker. O movimento nasceu em outubro de 2015 de uma iniciativa de engajamento com jovens, o Projeto SOL. Depois de uma história ímpar de articulação escolar, estudantes de 14 escolas de Santarém juntaram forças para levar ao escritório do Ministério Público suas preocupações para com as condições de suas escolas. Eles foram recebidos pela promotora local e estabeleceram um diálogo buscando solucionar as questões, que incluem reparos nas escolas, segurança, espaços pedagógicos e merenda.

Na terça-feira chegamos à cidade de Santarém, Pará, onde as águas azuis e cor de argila dos rios Tapajós e Amazonas se encontram. Em um auditório disponibilizado pelo Ministério Público, nos reunimos com um grupo de 23 estudantes de ensino médio e professoras de 5 escolas públicas da cidade para aprender sobre suas estratégias de organização e como a coleta de dados pode impactar seu trabalho.

Durante o encontro fizemos uma série de atividades para explorar a concepção dos participantes sobre dados, mapear os principais atores e aliados na questão da merenda, entender o conjunto de ferramentas que o grupo utiliza para se organizar, e analisar os resultados atuais da campanha no Promise Tracker. Além de compartilharem alguns dos desafios técnicos encontrados, os estudantes discutiram como aprimorar a estrutura das questões para facilitar o uso da campanha e tornar a interpretação dos dados mais intuitiva. Depois do encontro visitamos 3 das escolas representadas para ver com nossos próprios olhos o que está sendo servido aos alunos e as condições nas quais a comida é armazenada e preparada.

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Além de acompanhar o que está sendo servido, os estudantes estão cada vez mais interessados em explorar algumas das questões relacionadas aos problemas da merenda, como fornecimento irregular ou incompleto de suprimentos, falte de freezers para armazenar os perecíveis, falta de pessoal, e desafios com o controle de pragas nas salas de armazenamento dos alimentos. Nas próximas semanas o grupo estará refinando a campanha atual e experimentando novas iniciativas de coleta dados para monitorar a chegada de ingredientes e suprimentos.

Tem sido inspirador ver a energia e a incrível dedicação de tanto estudantes e professores que têm transformado frustrações quanto a condição escolar neste vibrante e organizado coletivo. Nos sentimos imensamente agradecidos pela oportunidade de trabalhar ao lado de grupos como este para explorar a relação entre novas ferramentas tecnológicas e a organização social. Um agradecimento especial para Eliana Mara por nos acolher em Santarém e por sua incansável dedicação à vida dos jovens da cidade. Nos últimos 20 anos ela ensinou e orientou mais de 15.000 estudantes em Santarém e foi um prazer poder testemunhar parte do impacto que ela teve para esses indivíduos e suas comunidades.

Estamos ansiosos para retornar a Santarém neste verão, nos reencontrar com os estudantes e discutir seu progresso. Abaixo algumas notícias da mídia local sobre o trabalho dos estudantes quanto a essa questão:

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Parceria com Centro de Mídia Cívica do MIT

Seminario sobre Tecnologia

Desde 2015 o Colab tem tido a oportunidade de participar do projeto Monitorando a Cidade, desenvolvido pelo Centro de Mídia Cívica do MIT (CCM), que se trata de uma plataforma para coleta de dados colaborativa visando a criação de campanhas cidadãs.

Estamos agora muito animados com a segunda fase do projeto no Brasil que, em parceria com o Humanitas360 e diversos parceiros da sociedade civil, busca desenvolver estudos de caso do uso do Monitorando a Cidade em diferentes cidades e explorar novas metodologias para avaliação de impacto.

Ao longo do ano passado e primeiro semestre desse ano o projeto atuou em parceria com a Rede Nossa São Paulo e organizações pelo país que compõe a Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, buscando assim desenvolver e testar a primeira versão da ferramenta Monitorando a Cidade. Através de uma série de oficinas o projeto colaborou com grupos locais para, de acordo com suas prioridades, criar campanhas piloto de monitoramento de infraestrutura e serviços públicos, aproveitando o processo para colher sugestões e avaliar a ferramenta.

Conforme a ferramenta Monitorando a Cidade vai além dessas oficinais iniciais e começa a ser adotada e usada por diversos grupos, estamos interessados em entender como ela pode ser útil a eles e até que ponto pode ajudá-los a alcançarem seus objetivos. Estaremos então trabalhando junto ao CCM para documentar iniciativas de monitoramento, buscando desenvolver um arcabouço participativo que ajude grupos a compreender seus próprios objetivos, aprendizagens e avanços.

O Centro de Mídia Cívica do MIT é um grupo de pesquisa que estuda e desenvolve novas tecnologias para facilitar a participação e engajamento cidadão. O grupo trabalha colaborativamente com diversas comunidades pelo mundo para criar e avaliar ferramentas que estimulam a coleta e divulgação de informação para a ação cidadã. Por meio de seus projetos, o centro explora sistemas para analisar o ecossistema de mídia e amplificar as vozes de grupos marginalizados.

Através desse processo estamos muito animados ao reunir pesquisadores, ativistas, financiadores e desenvolvedores, aprendendo com a experiência e estratégia de grupos da sociedade civil, refletindo sobre como desenhar e implementar novas tecnologias para uma mudança social. Pretendemos publicar mais informações em breve!