Day: 12/11/2025

Tese desenvolvida no CoLab-USP sobre as Senadoras brasileiras, a partir do reuso de dados abertos, é defendida na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP-Leste

Enquanto Centro de Pesquisa, o Colaboratório de Desenvolvimento e Participação (Colab-USP), tem como uma de suas principais características a multiplicidade de perspectivas científicas que dialogam, entre si, para a construção de pesquisas inovadoras na Universidade de São Paulo (USP). A interdisciplinaridade é uma premissa que sustenta o trabalho coletivo do Grupo ao longo de mais de 10 anos de história. 

Cheguei nesse barco em 2022, vinda de uma formação na Ciência Jurídica, entre graduação e mestrado, que já apontava para algumas das contradições inerentes à relação entre a teoria constitucional e a teoria social tradicionais, diante das disparidades entre o que se expressa na norma jurídica e o que se encontra na materialidade da vida. Especialmente, em relação a grupos historicamente excluídos dos espaços públicos de deliberação política.   

Quando ingressei no doutorado em Mudança Social e Participação Política da USP, conheci o Colab-USP e mirei na possibilidade de unir uma reflexão crítica sobre a democracia representativa e gênero, enquanto grupo não homogêneo, com o reuso de dados abertos disponibilizados pelas instituições públicas. A escolha pelo Senado Federal veio da constatação da baixa produção científica sobre o tema nos estudos de sociologia política e de gênero. 

Os dados obtidos auxiliaram na definição do perfil de quem são as mulheres que chegaram no Senado Federal, quando e como construíram suas carreiras políticas e se suas agendas se articulam, ou não, à agendas políticas emancipadoras às mulheres brasileiras. 

Foi nessa toada que a tese “A construção da representação política feminina no Senado Federal” foi elaborada, sob a orientação do professor Jorge Machado, um dos coordenadores do Colab-USP, defendida em agosto de 2025 e publicada recentemente no repositório de Teses e Dissertações da USP. 

A experiência no Colab-USP foi imprescindível para a realização da pesquisa. Até meu ingresso no grupo, minhas reflexões não dialogam com dados quantitativos que sustentasse uma análise qualitativa da experiência política das Senadoras. Foram as trocas entre os integrantes e coordenadores, a participação da prof.ª Dra. Ester Rizzi (EACH/USP), também coordenadora do Colab, na qualificação do doutorado, que permitiram a elaboração não só de códigos de extração dos dados abertos no Senado Federal, como também expandiram meus horizontes de crítica ao objeto da pesquisa. 

A sistematização e análise dos dados obtidos, com enfoque nas epistemologias da teoria política feminista e da teoria crítica social brasileira, resultou em uma tese que traça um quadro socio-político-normativo-histórico da inserção e desenvolvimento da presença de mulheres na elite política legislativa e como isso se desdobrou em produções legislativas sobre gênero no Senado Federal. A partir de marcadores interseccionais como gênero, raça, classe, traçou-se um perfil das 38 senadoras brasileiras eleitas como titulares de chapa em mandatos eletivos disputados entre 1990 a 2022, bem como apresentou-se os projetos de lei ordinária propostos pelas parlamentares que tratam, direta ou indiretamente, sobre gênero. 

A reutilização dos dados abertos disponibilizados no Congresso Nacional e no Tribunal Superior Eleitoral foi imprescindível para o êxito da pesquisa e demonstra como os investimentos públicos em transparência e accountability também promovem a produção científica brasileira, especialmente na área de Ciências Humanas e Sociais. A banca avaliadora foi composta pelas professoras Dra. Amanda Muniz (UFJF), Dra. Camila Galetti (UNB/IFB) Dra. Flavia Rios (FFLCH/USP) e a Dra. Gisele Craveiro (EACH/USP), também coordenadora do Colab-USP.

Os resultados obtidos podem ser consultados na tese, já disponibilizada de forma aberta e gratuita no Repositório de Teses e Dissertações da USP. Visando a ampla divulgação das informações coletadas, também foi elaborado um infográfico que pode ser acessado no link: https://alanafvalerio.github.io/infografia-senadoras/.