Proposta de uma Ontologia para as Despesas e Receitas do Orçamento Público Federal Brasileiro
Introdução
O acesso às informações de interesse público é essencial para a transparência e o fortalecimento da democracia. Um grande aliado do cidadão no controle social e na fiscalização do governo é o Orçamento Público. Ele determina quais ações (despesas) serão feitas pelo governo com os recursos originados de contribuições (receitas) da sociedade. Assim, o orçamento público é um dos meios de publicidade mais importantes do governo [1]. Apesar disso, em [2] nota-se uma grande deficiência nos dados orçamentários divulgados. Esse mesmo estudo aponta a necessidade de padronização e estruturação para possibilitar a construção de aplicativos que integrem dados de diferentes origens e assim permitir que o cidadão comum possa efetivamente acompanhar a execução do orçamento público.
A partir da necessidade de uma melhor estruturação dos dados abertos governamentais o presente trabalho propõe uma ontologia para a estruturação das receitas e despesas do Orçamento Público Federal Brasileiro.
Para efeitos didáticos, apresentaremos abaixo o modelo ontológico em duas partes: Receitas e Despesas.
O Modelo Ontológico da Classificação das Receitas
De acordo com o MTO [3], as receitas públicas são ingressos de recursos financeiros nos cofres do Estado. Quando representam recursos financeiros para aquele ano, desdobram-se em receitas orçamentárias e integram a LOA.
As receitas orçamentárias possuem três classificações simultâneas. São elas:
-
Classificação por Natureza: identifica a receita segundo seu fato gerador. É definida por um código numérico de oito dígitos subdivididos em seis níveis: categoria econômica (1º dígito), origem (2º dígito), espécie (3º dígito), rubrica (4º dígito), alínea (5º e 6º dígitos) e subalínea (7º e 8º dígitos). A Figura 1 representa um exemplo de classificação por natureza de uma receita;
-
Classificação por Identificador de Resultado Primário: identifica a receita como primária (vinda de impostos, taxas, etc.) ou financeira;
-
Classificação por Fonte/Destinação de Recursos: identifica as fontes de financiamento dos gastos públicos. É um mecanismo integrador entre receita e despesa. Na receita, indica qual a destinação do recurso, na despesa, a origem dos recursos utilizados.
O ementário das receitas [4] ainda define uma quarta classificação:
-
Classificação por Grupo da Receita: identifica quais agentes públicos possuem competência legal para arrecadar, fiscalizar e administrar as Receitas Públicas.
Figure 1. Classificação por Natureza da Receita [3].
Além da estrutura, uma receita apresenta diferentes status ao longo do tempo. Os estágios da receita orçamentária compreendem as fases de previsão, lançamento, arrecadação e recolhimento da receita [3]. A previsão consiste em estimar o valor das receitas que constarão na proposta orçamentária. Além de anteceder a fixação das despesas que constarão na LOA, serve de base também para estimar as necessidades de financiamento do governo. O lançamento é o ato de verificação da procedência do crédito fiscal e inscrição do débito a pessoa que lhe é devedor. Situa-se no contexto de crédito tributário, aplicando-se a impostos, taxas e contribuições de melhoria. A arrecadação é a entrega dos recursos devidos ao Tesouro Nacional. Pertencem ao exercício financeiro as receitas nele arrecadadas [5]. Por último, o recolhimento consiste na transferência dos recursos arrecadados à conta específica do Tesouro Nacional [5].
No diagrama UML abaixo, conseguimos ter uma visão semântica das classes e dos relacionamentos de uma receita no modelo ontológico:
A classe Orcamento possui receitas ou despesas (será detalhado adiante) os tipos de classificação de uma receita são identificados como ItensDeClassificacao.
O Modelo Ontológico da Classificação das Despesas
A fim de permitir um melhor detalhamento dos gastos públicos [6], a despesa orçamentária possui uma classificação estruturada, subdividida em Programação Qualitativa e Programação Quantitativa. A Tabela 1 apresenta um exemplo de estrutura da despesa.
Segundo [3], a Programação Qualitativa é composta pelos seguintes blocos:
-
Esfera: informa sobre a qual orçamento pertence à despesa.
-
Classificação Institucional: fornece a informação sobre os responsáveis pela elaboração da despesa. É definida por um código de cinco dígitos, nos quais os dois primeiros representam o órgão, o restante, a unidade orçamentária;
-
Classificação Funcional: dividida em função e subfunção, essa classificação responde a indagação “em que” área de ação aquela despesa será realizada. É definida por um código de cinco dígitos, os dois primeiros representam a função, o restante, a subfunção;
-
Classificação Programática: toda ação do governo está estruturada em programas orientados para atingir o objetivo do período correspondente ao PPA. São identificados por um código de quatro dígitos e contém uma ou mais ações. As ações são operações da qual resultam produtos que contribuem para o objetivo de um programa. Cada ação é identificada por um código alfanumérico de oito dígitos. O primeiro dígito identifica o tipo da ação. Do segundo ao quarto é detalhada a ação. Os quatro últimos identificam o subtítulo da ação, estes são utilizados especialmente para descrever a localização da ação.
A Programação Quantitativa define o quanto será desenvolvido e também o que adquirir e com quais recursos. Além da classificação por fonte/destinação já descrita na receita, essas informações quantitativas estão definidas nos seguintes blocos:
-
Meta Física da Ação: define, em nível de subtítulo, a quantidade do produto que será ofertado em uma determinada ação;
-
Natureza da Despesa: semelhante à natureza da receita, também é definida por um código numérico de oito dígitos, porém subdivididos em cinco níveis: categoria econômica (1º dígito), grupo de natureza da despesa (GND) (2º dígito), modalidade da aplicação (3º e 4º dígitos), elemento de despesa (5º e 6º dígitos) e subelemento (7º e 8º dígitos);
-
Identificador de Uso (IDUSO): destina-se a indicar se os recursos compõem contrapartida nacional de empréstimos ou de doações ou destinam-se a outras aplicações;
-
Identificador de Doação e de Operação de Crédito (IDOC): identifica as doações de entidades internacionais ou operações de crédito contratuais;
-
Identificador de Resultado Primário: tem como finalidade auxiliar a apuração do resultado primário previsto na LDO.
Table 1. Código-exemplo da estrutura completa da programação [3].
Uma despesa também passa por diferente estágios: o empenho, liquidação e, por último, o pagamento [3]. O empenho é o primeiro estágio de uma despesa, é o ato de criar obrigação de pagamento pendente para o Estado. A liquidação tem o objetivo de verificar se a despesa foi regularmente empenhada e que a entrega do bem ou serviço foi realizada de forma satisfatória. Após a liquidação é efetuado o pagamento ao responsável pela prestação do serviço ou fornecimento do bem.
No diagrama UML abaixo, conseguimos ter uma visão semântica das classes e dos relacionamentos de uma despesa no modelo ontológico:
Assim como nas Receitas, os tipos de classificação de uma despesa são identificados como ItensDeClassificacao.
Estrutura da Ontolologia
Nas tabelas a seguir, estão representadas as classes com seus respectivos relacionamentos (propertyObjects):
Classe |
ObjectProperty |
Classe |
Orcamento |
temReceita |
Receita |
Orcamento |
temDespesa |
Despesa |
Receita |
pertenceAOrcamento |
Orcamento |
Receita |
temCategoriaEconomicaDaReceita |
CategoriaEconomicaDaReceita |
Receita |
temEspecie |
Especie |
Receita |
temOrigem |
Origem |
Receita |
temRubrica |
Rubrica |
Receita |
temAlinea |
Alinea |
Receita |
temSubalinea |
Subalinea |
Receita |
temClassificacaoDoGrupoDaReceita |
EspecificacaoGrupoDaReceita |
Receita |
temDestino |
EspecificacaoDaFonteDestinacao |
Despesa |
atuaNaFuncao |
Funcao |
Despesa |
atuaNaSubfuncao |
Subfuncao |
Despesa |
eRealizadaPorUO |
UnidadeOrcamentaria |
Despesa |
pertenceAEsfera |
Esfera |
Despesa |
pertenceAOrcamento |
Orcamento |
Despesa |
pertenceAPrograma |
Programa |
Despesa |
temAcao |
Acao |
Despesa |
temCategoriaEconomicaDaDespesa |
CategoriaEconomicaDaDespesa |
Despesa |
temElementoDeDespesa |
ElementoDeDespesa |
Despesa |
temFonte |
EspecificacaoDaFonteDestinacao |
Despesa |
temGND |
GND |
Despesa |
temIDOC |
Idoc |
Despesa |
temIDResultadoPrimarioDaDespesa |
IdentificadorResultadoPrimarioDespesa |
Despesa |
temIDUSO |
Iduso |
Despesa |
temModalidadeDeAplicacao |
ModalidadeDeAplicacao |
Despesa |
temSubtitulo |
Subtitulo |
Hierarquia das propriedades de Objeto:
Hierarquia das Propriedades do tipo data:
Referências:
-
Paludo, A. 2011. Orçamento Público, Administrção Financeira e Orçamentária e Lei de Responsabilidade Fiscal. Elsevier, Rio de Janeiro.
-
Craveiro, G.S., Santana, M. T. and Albuquerque, J. P. 2012. Assessing open government budgetary data in Brazil, to be published.
-
SOF. 2011. Manual Técnico de Orçamento 2012 – MTO. Brasília. DOI= https://www.portalsof.planejamento.gov.br/bib/MTO/MTO_2012.pdf. (Online; accessed 20-Jan-2012).
-
SOF. 2011. Ementário de Classificação das Receitas Orçamentárias da União. Brasília. DOI= https://www.portalsof.planejamento.gov.br/bib/publicacoes/Ementario_2011_Atualizado_1.pdf. (Online; accessed 20-Jan-2012).
-
Brasil. 1964. Lei nº. 4.320, de 17 de março de 1964. DOI= http://www.planalto.gov.br/ccivil 03/leis/L4320.htm. (Online; accessed 20-Jan-2012).
-
Slomski, V. 2008. Manual de Contabilidade Pública: um enfoque na contabilidade municipal, de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Atlas, São Paulo, Second edition
Download do texto: OntologiaEGOV
Download da ontologia (.owl): OWLOrcamento